O papel de Aninha e Dorinha na terceira série de TMJ
Notas iniciais:
- Se você não está familiarizado com as séries de Turma da Mônica Jovem (TMJ), dá uma lida aqui.
- Se você não lembra/não sabe quem é o Manezinho, dá uma lida aqui.
O papel de Aninha e Dorinha na terceira série de TMJ

Na Turma da Mônica, Titi é conhecido por estar sempre atrás de um rabo de saia, mesmo namorando a Aninha. Vaidoso e ciumento, o paquerador mirim compensa a falta de bom senso com uma autoestima de dar inveja.
Quando a turma ganhou a sua versão jovem, Titi cresceu, mas não evoluiu muito. Ele continuou sendo um namorado possessivo e manipulador, além de bastante hipócrita: enquanto ditava com quem Aninha podia conversar e quais roupas ela deveria usar, Titi se sentia no direito de poder flertar com qualquer menina (padrão, é óbvio) que ele visse pela frente. É o que os especialistas chamam de relacionamento abusivo.
Com esse tipo de comportamento nem um pouco exemplar, não é surpresa para ninguém que Titi era um dos personagens mais detestados pelos fãs, chegando a receber o apelido pouco lisonjeiro de Titica. Contudo, isso começou a mudar a partir da segunda série de Turma da Mônica Jovem, quando teve início o arco de redenção do jovem dentuço.
Mas... esse texto não era sobre outras pessoas? Por que a gente tá falando do Titi mesmo?
Aninha
Se a personalidade do Titi não mudou na transição para a turma jovem, o mesmo pode ser dito a respeito da Aninha. Ou melhor: ela nunca teve muita personalidade, para começo de conversa.
Em uma das histórias da quinta edição (As aventuras do dia-a-dia!), Mônica conversa com uma aflita Aninha por telefone. O motivo da ligação? O Titi tinha terminado com ela! Mesmo que esse tipo de evento fosse rotineiro na vida dos dois, a coitada ficou tão mal que nem foi à escola. O roteiro segue sem que Aninha dê as caras em momento algum. No fim da aventura, Mônica tem o seguinte diálogo com Titi:
— Titi? Então era verdade? Você realmente terminou com a Aninha pra se dedicar às suas coisas?
— É isso aí! Eu preciso treinar mais pro campeonato entre escolas e ela não entende! Ela só quer saber de festas e de sair pra balada! Acho que todas as meninas são iguais!
A Aninha só foi aparecer de fato na revista na 11ª edição (Ser ou não ser?). Mesmo sendo a líder da equipe e a melhor nas coreografias e malabares, ela saiu do grupo de líderes de torcida do Limoeiro FC porque o Titi não queria mais que ela usasse saia curtinha na frente de uma multidão. Porém, quando um imprevisto acontece e a equipe fica desfalcada, Aninha precisa pegar seus pompons e retornar aos gramados.
— Aninha! A gente não tinha combinado que você não ia mais participar desse... dessa... disso? Já falei que menina comprometida não pode sair mostrando as pernas assim!
— Você sempre reclama que eu fico no seu pé, que não te deixo fazer nada... mas e você, Titi? Eu sei que o futebol é importante pra você e eu venho tentando levar de boa esse tempo todo que você passa longe de mim... e as meninas gritando quando você entra em campo! Eu sei que você faria tudo para ajudar seu time, Titi! Acontece que agora minhas amigas precisam de mim e eu vou ajudar, entendeu?
Depois disso, Aninha teve poucas aparições, sempre de maneira breve e ao lado do Titi (O dono do mundo!; Um dia de agito!; O aniversário de 15 anos da Marina). Ele, por sua vez, também não teve lá muito destaque (não vamos esquecer que os dois são personagens secundários), mas o Titi fez algumas pontas aqui e ali sem a presença da namorada (No País das Maravilhas; O mundo Do Contra).
Tudo estava prestes a mudar com a chegada da edição nº 31 (Divisão por dois), que abalou as estruturas de um relacionamento que nunca esteve muito firme. Foi aqui que testemunhamos o término definitivo, real oficial do casal. Essa edição é icônica. Como não dá para colocar ela inteira aqui, só vou destacar as palavras da Aninha ao selar o seu destino (guarda esse trecho, a gente vai voltar nele mais tarde):
"Então, agora eu quero dar um tempo! Eu sempre fui apenas 'a namorada do Titi'! E isso era ótimo... mas quando a gente terminou de verdade... bom... eu tinha que ser alguma outra coisa! E eu descobri que tem muitas coisas para ser e fazer! Design! Informática! Dança! Moda! Decoração! Ginástica! De repente, até curso de intercâmbio em outro país! Nem escolhi ainda! São tantas opções... Por isso, não quero voltar a namorar agora! Não faço outra coisa há vários anos..."
Dito e feito. A partir daí, Aninha abriu seus horizontes e passou a dedicar seu tempo a hobbies, cursos e trabalho. Seus empregos de meio período até viraram uma piada recorrente: ela sempre aparecia trabalhando num lugar novo, colecionando tantas carreiras quanto a Barbie (ou a Queixuda). Os atritos com o Titi ainda continuaram, já que ele não aceitava o término, mas Aninha nunca recuou um centímetro e aos poucos foi construindo sua identidade para além do ex-namorado.
No geral, a segunda série de TMJ deu continuidade a essa dinâmica: Titi tinha mais participações nas histórias, e Aninha seguiu dando orgulho ao Ministério do Trabalho nas raras vezes em que aparecia.
Em O intercâmbio da Aninha (nº 39), nossa querida proletária finalmente realiza seu sonho de estudar fora do país. Em sua jornada no Canadá, ela supera seus medos e inseguranças, se conecta com pessoas novas, conhece uma nova cultura e evolui pessoalmente, além de aprimorar seu nível de inglês.
Apesar do título, parte considerável da história é sobre o Titi. Ele tem ciúmes da atenção que a ex-namorada está recebendo da turma e se sente inferior em comparação a ela. Portanto, Titi decide fazer aquilo que qualquer pessoa sensata e bem resolvida faria: fingir que está viajando pela Europa, postando fotos manipuladas nas redes sociais. Não demora muito para que a Mônica descubra a farsa e dê um sermão digno de protagonista nele. Com isso, Titi percebe que errou e apaga as fotos.
eitaa esse fecho matou viu!!!! 💋💋 |
Algumas edições antes disso, Titi já tinha levado outro choque de realidade. Foi em Além de Jurerê (nº 30). Apesar de ser focada no Jeremias, é nessa história que se inicia o arco de redenção de Titi. Ao longo da trama, Titi impõe suas vontades e gostos ao amigo e ri do interesse dele por teatro. Ofendido, Jeremias abandona a viagem que os dois tinham planejado. Sozinho em Jurerê, Titi avista Aninha conversando com um rapaz que ele pensa ser o atual namorado dela, mas na verdade era o primo, Jonas. Escondido, ele escuta Aninha desabafar sobre o seu ex tóxico e autocentrado, que não tinha interesse em conhecer coisas novas ou ouvir sobre os gostos alheios. Titi se dá conta de que errou com o Jeremias, se arrepende e volta mais cedo da viagem para assistir a apresentação teatral do amigo e pedir desculpas.
Sem nenhum outro momento digno de nota, chegamos à terceira série. De longe, esse é o melhor momento da carreira do Titi. Aqui, ele protagonizou várias one shots e até mesmo um arco. Uau, quem TI viu e quem TI vê! (foi mais forte do que eu, desculpa)
Lembra que a Aninha estava sempre fazendo bicos em lugares diferentes? Pois bem, pode esquecer isso. Agora, ela tem um emprego fixo e é gerente no Maid Café (sim, ela é menor de idade; não, eu não sei se isso é permitido, mas não vamos nos apegar a detalhes).
Sabe quem também trabalha no Maid Café? Isso mesmo, o Titi. Foi graças a essa experiência profissional que ele aprendeu que assediar é errado, e que um homem não deixa de ser homem por usar um vestido (pois é). Fora um ou outro rolê da turma, o Maid Café existe como cenário para o desenvolvimento único e exclusivo do Titi. Nenhuma das histórias que se passam lá é contada do ponto de vista da Aninha e a gente não sabe nada sobre os outros funcionários: tudo acontece em função do Titi.
Veja bem, não há nada de errado no fato da Aninha ter se estabilizado. O problema é que, assim como o café, ela está lá apenas como pano de fundo para contar a história que realmente importa: a do ex dela.
Nesses mais de quatro anos da fase atual da revista, a Aninha só protagonizou uma one shot fora do Maid Café: Como nunca vi você antes?, na edição 32. A história mostra o reencontro dela com o Manezinho e o início do romance entre os dois. O curioso é que eles se encontram em Portugal, só que ela tinha ido fazer intercâmbio no Canadá... vai entender. Aqui, acompanhamos a trama apenas do ponto de vista do Maneco e, mais uma vez, Aninha é coadjuvante da própria história.
Também vale notar que, namorando um amigo de infância do Titi, Aninha foi o pivô de uma briga entre o ex e o atual. Assim, na terceira série, a Aninha é basicamente um instrumento narrativo com a função de avançar o roteiro e/ou o desenvolvimento de outros personagens, especialmente o Titi. Não sabemos nada sobre os interesses e planos dela, e ela não interage com o resto da turma sem estar no Maid Café ou acompanhada do namorado.
Agora, vamos retomar aquele lindo monólogo que a Aninha fez lá na edição 31 da primeira série:
"Então, agora eu quero dar um tempo! Eu sempre fui apenas 'a namorada do Titi'! E isso era ótimo... mas quando a gente terminou de verdade... bom... eu tinha que ser alguma outra coisa!"
Legal! Agora você não é mais "a namorada do Titi", e sim a "a namorada do Maneco"! Um grande avanço!
"E eu descobri que tem muitas coisas para ser e fazer! Design! Informática! Dança! Moda! Decoração! Ginástica!"
Você agora é gerente de uma cafeteria? Meus parabéns! Como foi que você conseguiu esse cargo mesmo, Aninha? O que tá achando desse novo emprego? E o que você pretende fazer no futuro? Oi, não dá pra falar agora? O Titi tá se desconstruindo e precisa da sua ajuda? Ah, sem problemas! Mais tarde a gente conversa, se você aparecer de novo...
"De repente, até curso de intercâmbio em outro país! Nem escolhi ainda! São tantas opções... Por isso, não quero voltar a namorar agora! Não faço outra coisa há vários anos..."
Fiquei sabendo que você conseguiu fazer o curso de intercâmbio, que incrível! Mas o que você foi fazer em Portugal? Pensei que você tivesse ido pro Canadá para aprimorar o seu inglês. Como? É que o Maneco tava em Portugal e você tinha que aparecer lá de algum jeito pra encontrar ele e começar um novo namoro? Entendo... então tá bom...
Sei que a Aninha nunca teve muito desenvolvimento, mas parece que até o pouco que ela tinha foi roubado na terceira série. Tudo aquilo que ela almejou no passado foi apagado, esquecido ou distorcido. Não é triste? E o pior é que ela não é a única...
Dorinha
Se o histórico da Aninha nas duas primeiras séries da revista já não é grande coisa, o da Dorinha é de dar dó. Ela não teve nenhum momento marcante nas 100 primeiras edições, só aparecendo de vez em quando para iluminar os protagonistas com sua sabedoria e sensatez.
Dorinha só vai protagonizar uma história na quinta edição da segunda série: Entre o céu e o inferno. Aqui vai o resumo da trama, publicado na própria revista:
A turma estava organizando a Grande Festa do Jilobacate, um baile que reuniria todos em uma noite inesquecível. Só que em meio a isso, surgiu uma visita inusitada diretamente dos céus. E entre anjos e demônios, o clima de discórdia foi se intensificando até desencadear em uma verdadeira batalha entre o céu e o inferno. Mas isso melou um romance que estava rolando entre a Dorinha e o visitante celestial, uma pena!
Eu não teria dito melhor! Mas deixa eu complementar um pouco: nessa edição conhecemos Alef, um anjo caído que recebe a missão de levar o caos às vidas dos jovens moradores do Limoeiro. Para isso, ele começa a estudar no mesmo colégio da turma, onde é inicialmente discriminado por Xaveco, Cascão e Titi devido ao fato de ser albino. Ao mesmo tempo, estão sendo feitos os preparativos para a Grande Festa do Jilobacate. Até aqui, tudo normal.
Alef logo conhece Dorinha, mas não consegue entender como ela pode ser feliz, já que ela é cega (pois é). Não chegamos a descobrir o que levou o Alef a se revoltar contra as leis divinas, mas conviver com alguém de bem com a vida e que não odeia o mundo por ter nascido com uma deficiência é o suficiente para explodir a mente desse rebelde sem causa.
"Essa garota... de onde vem tanta vontade de viver? Eu tinha muito mais e não tinha isso!"
A Dorinha ser uma metralhadora de frases motivacionais nessa história também não ajuda o pobre Alef. É uma lição de moral atrás da outra!
Desde o momento em que se conheceram, Dorinha percebe que há algo de errado com Alef e que ele esconde alguma coisa:
"E tem algo mais, pelo seu jeito de falar... não sei explicar! Uma coisa contraditória! Um conflito!"
"Sei que você esconde um segredo! Algo que incomoda muito! Sei pelo tom da sua voz... pela sua postura... [...] Você raramente fala de frente comigo! É como se tivesse vergonha... ou arrependimento..."
Esse é um clichê muito comum nas histórias da turma clássica: por não conseguir enxergar, Dorinha tem os outros sentidos mais aguçados; e sua sensibilidade elevada permite que ela leia os sentimentos alheios como ninguém, tornando-a uma pessoa extremamente empática e madura para a sua idade.
O que a Dorinha não sabe é que o Alef se aproximou dela por pensar que ela seria o elo fraco da turma, uma presa fácil. Os meninos suspeitam que ele não é confiável e, mesmo afirmando que a Dorinha não é boba, decidem ficar de olho no aluno novo para protegê-la. Nesse meio tempo, Alef aproveita para semear a discórdia entre a turma na surdina, com direito a controle mental, vandalismo, assédio e traição.
Os dois passam menos de uma semana juntos e o Alef já tá falando de amor quando ganha um beijo da Dorinha. Encantado pela aura good vibes dela, ele fica confuso e não quer mais dar andamento ao plano para sabotar a Grande Festa do Jilobacate, mas acredita não ter escolha. Pouco tempo depois, ele acaba revelando seus poderes de anjo ao salvar a Dorinha de um atropelamento. Mônica é testemunha e não gosta nem um pouco do que vê. Monocrática, ela não escuta o que a Dorinha tem a dizer sobre o Alef e impede que os dois se aproximem e conversem entre si, indo contra a vontade da amiga.
Na Grande Festa do Jilobacate, Alef se redime dos seus pecados e volta a ser um anjo com selo de aprovação celestial. E, sendo uma criatura divina, ele não pode viver um romance com a Dorinha. E fim. Uma pena!
Dorinha é confiante e tem uma atitude positiva durante a história, mas sua participação na trama se resume a ser um exemplo de superação para o Alef (esse artigo fala um pouco sobre esse clichê). Aliás, a trama é contada a partir da perspectiva dele, e não dela. Ironicamente, a turma repete várias vezes que a Dorinha não é ingênua e sabe se cuidar, mas ninguém confia nas decisões dela. É como se, no fundo, todos acreditassem que ela é mais suscetível a ser enganada apenas por ser cega, assim como o próprio Alef no início.
Embora a intenção fosse de empoderamento, Dorinha é desprovida de agência pelo roteiro e pela turma. Quando Mônica não permite que ela fale com Alef, Dorinha não chega nem a protestar com veemência, ela só aceita com resignação. As coisas simplesmente acontecem e ela acompanha tudo passivamente, no máximo soltando uma frase bonita para nos emocionar.
Falou tudo, linda |
Depois dessa belíssima edição, a Dorinha só voltou a ter destaque nas one shots da terceira série. Em Aparências (nº 09), ela desenvolve uma amizade inesperada com o Titi. Olha ele aí de novo! A partir daí, Dorinha virou personagem recorrente nas histórias do arco de redenção dele, sempre disposta a ouvir os seus problemas e aconselhá-lo. Felizmente, ela deixou suas mensagens motivacionais no passado. Agora, ela tem um humor mais ácido e não hesita em puxar a orelha do amigo quando necessário, o que acontece com frequência.
De novo, isso não é um problema por si só. Porém, mais uma vez, a narrativa é conduzida do ponto de vista masculino. A Dorinha só aparece associada ao Titi. Sempre é ele que traz um conflito para ser resolvido ou auxiliado por ela. Uma queixa recorrente entre os fãs é de que ela parece ser a psicóloga do Titi. Dessa forma, não há espaço para o desenvolvimento dela, porque ela está lá apenas para apoiar a evolução dele.
Amor ou amizade? (nº 38) foge um pouco desse padrão. Aqui, Dorinha e Quim se beijam em uma balada, mas isso não significa que eles vão engatar um namoro. Ela não é terapeuta de ninguém dessa vez e é legal ver ela formando uma amizade com a Maya (amiga de Quim que fica interessada pelo Titi). Contudo, Titi é o único dessa história que ganha mais uma camada de desenvolvimento, revelando seu desejo de ser DJ.
Na mesma edição temos Missão Begônia, a única one shot da Dorinha sem a presença do Titi. Nela, Mônica subestima as capacidades de Dorinha e pensa que ela é desqualificada para cuidar do próprio jardim. Novamente, o roteiro se desenrola sob a ótica de outra pessoa, e não da Dorinha.
Já em O tino (nº 46), pela primeira vez o conflito de Titi surge com a Dorinha, e cabe ao Jeremias ajudar o amigo a resolver a situação.
Assim, de maneira geral a Dorinha acaba caindo no estereótipo da manic pixie dream girl. Segundo o The Feminist Patronum:
"São aquelas personagens misteriosas e complicadas, que não possuem um desenvolvimento em suas histórias pessoais, porém, são personagens com personalidades fortes, que sempre ajudam o protagonista (homem) a se aventurar e se descobrir. [...] As características de uma manic pixie dream girl são: ela é divertida, engraçada, misteriosa, tem a impulsividade de uma criança mas ao mesmo tempo tem muita maturidade e autossuficiência. É vista pelo protagonista como uma garota diferente das outras…"
Tirando a parte da impulsividade infantil, é a definição perfeita da Dorinha na fase atual de TMJ! Ela parece ser uma personagem complexa, mas na realidade é extremamente rasa, servindo como ferramenta para alavancar o desenvolvimento masculino. Onde foi que eu já vi isso?
Semelhanças
Levando tudo isso em consideração, é fácil concluir que Aninha e Dorinha têm muito em comum na terceira série de TMJ, e não é só o apelido no diminutivo.
Ambas são empregadas rotineiramente como coadjuvantes do Titi. Elas não têm gostos, medos, problemas ou objetivos próprios, mas estão disponíveis para contracenar com o protagonista masculino sempre que necessário. Quando o enredo não é sobre o Titi, é sobre um romance com algum outro rapaz, como se uma mulher não pudesse protagonizar uma história sem estar associada a um homem ou a um relacionamento amoroso.
No caso da Dorinha, há ainda o agravante do capacitismo: seja por colocá-la na posição de heroína ou vítima, ela é continuamente destituída de sua autonomia para que o protagonista sem deficiência possa aprender uma valiosa lição.
Outro personagem que também é usado de forma recorrente como elenco de apoio do Titi é o Jeremias, como é o caso em Além de Jurerê, O tino e Titi tantsor, dentre outros roteiros. No entanto, ao contrário da Dorinha e da Aninha, o Jeremias participa de várias histórias com outros personagens e tem seu desenvolvimento próprio. Ainda assim, é interessante notar como personagens pertencentes a minorias constantemente servem de escada para o crescimento do personagem masculino, branco e sem deficiências.
É importante destacar que, de todas as histórias da terceira série com a participação da Aninha ou da Dorinha, apenas uma foi escrita por uma mulher, sendo a one shot O tino, de Maria Clara Portela, citada anteriormente. De maneira similar, as edições O intercâmbio da Aninha e Entre o céu e o inferno da segunda série foram roteirizadas exclusivamente por homens. Já a edição com o término da Aninha e do Titi na primeira série e as histórias subsequentes que mostravam ela trabalhando (edições 33, 34, 35, 36, 42, 45, 53 e 71) foram escritas por uma mulher, Petra Leão. Obs.: já falei sobre a falta de roteiristas mulheres em TMJ aqui!
Não é coincidência que os roteiros feitos por homens falhem com essas personagens, reduzindo seu desenvolvimento pessoal à esfera do romance e dando mais espaço ao protagonismo masculino do que ao feminino. É por esse e outros motivos que a diversidade se faz tão necessária!
Espero que no futuro, as narrativas de Dorinha e Aninha possam ser conduzidas por pessoas com olhares diferentes, e que respeitem a individualidade de cada uma. Enquanto isso não acontece, continuarei pedindo por mais pluralidade dentro e fora dos gibis. Você vem comigo nessa?
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Obrigada por ler até aqui! Até a próxima!
Muito importante mesmo falar disso!!! Sonho com histórias da Dorinha como protagonista real desde a primeira série, e a Aninha também merece um arco muuuito mais desenvolvido do que ex-do-Titi
ResponderExcluirNé?! Justiça por Dorinha e Aninha!
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